"Sonho que se sonha só é só sonho, sonho que se sonha junto é realidade" (Raul Seixas)

Minha vida está marcada, justamente, como a vida de tantas e tantos brasileiros que sonhavam e, dentre tantos sonhos, até os mais simples, como comer coisas que só se via na televisão e, principalmente, quando via as "pobres-ricas novelas brasileiras", que cumpriam o papel de, ao menos, inspirar aos que tem desejos e sonhos de progredir na vida. A dureza de viver e enfrentar a vida como ela se colocava naquela realidade, fazia parte do talvez, chamado destino.
Por Ana Marta da Silva Santos*
Uma vida tão simples e com tantas dificuldades em uma casinha tão pequena, onde todos os sete filhos dormiam em um mesmo quarto, onde tantas vezes éramos surpreendidos com a chegada do pai embriagado incomodando e até espancando filhos e esposa, impedindo-nos de ter o tão nobre momento humano: o sono! Era esse o dia-a-dia da "menina-adolescente" que era capaz de sonhar como mulher!
Em 2003, pouco depois de completar meus 16 aninhos tive de presente um convite para participar de uma reunião, organizada pelo professor Arismário (ex-militante da Juventude Viração), que preparava, politicamente, a um grupo de jovens e estudantes, que posteriormente, se formou a delegação Ipiraense ao 29o Congresso Nacional da Ubes, em novembro do mesmo ano em São Paulo, também primeira delegação da cidade a ir a um evento de tal relevância.
Confesso que foi a primeira vez que viajei "tão longe". Meus parentes que viviam em São Paulo sempre foram vistos como pessoas importantes, pelo simples fato de viver na "terra das oportunidades", para os nordestinos, independente do nível de vida e do oficio que realizasse, pois essa era uma das melhores formas de mudar de vida, e realmente, para mim, também foi, mas em um contexto diferente, pois não me coube limpar ou cozinhar para Doutores e, tampouco, ser explorada como mão-de-obra barata ou escrava, pois ali se abriu uma não, mas várias portas e janelas ao mesmo tempo, e meu ofício era entrar no mundo dos que pensam, amam, sonham e fazem tudo em busca de um mundo melhor, não só para si mesmo, mas para todos.
Talvez fosse desnecessário, mas faço questão de citar a tão grande emoção que me contagiava; como a cada um de vocês, nessa experiência fantástica e inesquecível, mas de fato, eu me sentia extasiada e até chorei de emoção quando, por primeira vez ouvi: "Viva, Viva, Viva a Juventude Socialista, Se eu quero e você quer mudar a situação..."; parecia que no dia seguinte estaríamos no mundo novo, transformado por nós mesmos. Claro, que rapidinho aprendi a cantar essa e tantas outras palavras de ordem da UJS e devo dizer que esse foi o fato mais emocionante, extraordinário e inesquecível da minha vida, até aquela idade. O mundo se tornou muito mais infinito e entendi por que o Sonho que se Sonha Junto è realidade!
A militância se deu naturalmente e estendeu-se da pequena cidadezinha do sertão baiano, chegando a preciosa capital da Bahia; e dentre as grandes tarefas estavam o ME( Grêmio do Central, Residência Estudantil, Abes, Ubes), e posteriormente o leque se ampliou com o movimento negro, de mulheres , sindical, luta ecológica, enfim..., tantas lutas que me fez desejar e amar esse mundo da política que você não vale um saco de cimento ou uma dentadura, mas sim o que você é capaz de produzir, pensar, contribuir e, ainda, pode contar com a contribuição desse coletivo que te embriaga de sonhos e desejos de mudar o mundo.
E, como me refiro a uma época não tão remota, mas que vivia em um contexto político diferente; para mim, a universidade (que na UJS aprendemos a vê-la e colocá-la na prioridade que merece, mesmo sendo a militância a maior universidade dessa vida!) era também uma luta prioritária, para mim, e sabia que não estava sozinha na batalha e, por fim, venci também nessa batalha, mas não foi na Bahia, nem no Brasil e sim na nossa pátria-irmã, Cuba, através das bolsas que o governo cubano doa as entidades não-governamentais a diversos países para que estudantes pobres e carentes que não podem custear seus estudos possam estudar na Elam — Escola Latino Americana de Medicina, que representa a concretização de mais um dos fantásticos sonhos do nosso comandante Fidel Castro, que nos acolhe extraordinariamente, adotando-nos como seus filhos, durante nossa residência temporária de seis anos e meio aqui.
A vida em Cuba tem sido uma extraordinária experiência e, só sairá daqui só médico quem quiser, pois as oportunidades de freqüentar um circuito cultural de primeira qualidade a preço tão módico; é incomparável. Além disso, aprendemos que o médico que só de Medicina sabe nem de Medicina sabe; portanto, nos cabe saber de Cultura, Arte, Política... em qualquer parte!Esta é a capital mundial da juventude e dos estudantes, o que nos permite, além de interagir com o povo cubano, interagir com pessoas de tantos países que nunca pensei em conviver; que também vêem aqui estudar diferentes carreiras.
Me resta dizer à "Força que Cresce", que não só cresci, mas que também amadureci, me fortaleci e, pelo pouco que me falta, também me profissionalizei, graças à sua existência e, hoje, depois de passados quase 15 anos me sinto um fruto seu e com o ensinamento do apóstolo da Revolução Cubana, Jose Marti: “Há que fazer em cada momento o que em cada momento e necessário”, portanto, da mesma forma que foi necessário distanciar-me fisicamente da sua estrutura, e necessário, aproveitar os 26 anos da UJS e no seu Congresso Nacional para saudar aos seus militantes e dirigentes dizendo: obrigada, UJS! Parabéns por ser uma perspectiva enorme para a juventude brasileira!!! Bem-vindos os que chegam e valeu aos que se vão!!! Felicidades!!!
Por ocupar as mais representativas entidades estudantis brasileiras (UNE/Ubes...), Latino-Americana (Oclae) e de Juventude (FMJD). Além de ter na sua trajetória nomes brilhantes e inesquecíveis de militantes que passaram dando suas contribuições indispensáveis e inconfundíveis.
Verdade é que a Biologia me chama e com os olhos cheios de lágrimas e com muita emoção, com sentimento de dever cumprido e sem querer dizer Adeus, digo até logo, e não é que estou saindo da mais guerreira e revolucionaria organização juvenil brasileira — é que cumprimos nossos papéis e vamos passando, alguns lentamente, outros mais rapidamente, afinal, chegam outras pessoas a cumprir as mesmas tarefas e, como você me fez, te digo: a você me devo!!! Meu dever agora é trilhar pelos teus mandamentos, recordando Che: “Se você é capaz de sentir por qualquer injustiça em qualquer lugar do mundo, somos companheiros!”.
Aqui, temos Che tão presente, que até as crianças conhecem muito do nosso Comandante, o que me faz ter dúvida quanto a sua ausência física, pois seus ensinamentos estão tão vivos..., que nos faz sentir e dizer: Seremos como El Che!!!
E nosso compromisso de ser como Che não se resume à profissão, mas também ao nosso ideal revolucionário de exercer a Medicina em prol dos que necessitam e não dos que tem melhor poder aquisitivo, pois saúde não é mercadoria e nossa formação trilha por esse caminho e, cabe à UJS apoiar a luta pela revalidação dos nossos diplomas, pois seguramente o que teme a elite médica brasileira é que em nossas consultas verão um belo cartaz, dizendo: “Entre! Aqui você não é um cliente e sim um paciente. Médico Formado em Cuba!
Sou a primeira militante baiana que termina o curso em Cuba e com muito orgulho, deixarei uns quantos e corajosos seres que seguirão suas carreiras para que amanhã sejamos não só os ex-estudantes de Medicina em Cuba, mas sim camaradas que também se fizeram em você e no momento devido entenderão que a você se devem, igual que tantos outros que ainda virão a cumprir a mesma tarefa e formaremos "El Ejercito de Batas Blancas" de Fidel e, conseqüentemente, doutores filhos de trabalhadores, pois cremos que “os poderosos poderão deter uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera!!!!”.
Nessa data tão importante, onde há 80 anos nascia o Comandante Ernesto Che Guevara, espero que tantos Ches nasçam hoje, que tantas meninas e meninos possam ser salvo do mundo das drogas e da prostituição, aonde as Anas, Martas, Marias, Rosas..., tenham seus destinos transformados e concretizaremos os nossos sonhos coletivos como nos ensinou Raul Seixas e viveremos a primavera “del Che”! “Vem pra UJS, vem pra luta também!".
VIVA CUBA!!!
VIVA O BRASIL!!!
VIVA A UJS!!!
"Sigamos sonhando juntos para que nossos sonhos se façam realidade e vivamos sempre a Primavera!"
* Ana Marta da Silva Santos é militante do PCdoB, da Unegro e da UBM, além de estudante de Medicina da Elam (Escola Latino Americana de Medicina) em Cuba